terça-feira, 14 de agosto de 2018

Um conto




Um sol escaldante.

Os calos, a enxada, obreiro do dia.

Na noite, o aconchego do colo de mulher e balbúrdia dos filhos.

Vida sertaneja se ia.




quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Bicho do Mato

Bicho do mato que sou
Arribei-me de casa cedo
Na caça de alguns punhados
De comer e matar a sede

Embrenhado numa selva de pedra
Desfigurei de mim a origem
Humilde e aquela simplicidade
Pureza de uma virgem

E ao retornar àqueles sonhos
Da infância perdida na lida
Ecoou um grito de liberdade
Valido a pena, conflito e briga

Mãos em preces aos céus
Mesmo sendo o caminho duro
Por lembrar-me que é agora
Construção de todo futuro

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Treitcheiro (Treiteiro)

Era deveras religioso quando menino
De tudo que era jeito tinha padrinhos
De crisma, de colo e de São João
A todos me deleitava em carinhos.

De verdade, outros eram os interesses
Não de um todo querer maldoso
Para menino ter uns trocados
A vida era pedir todo garboso.

E a frase dita a cada padrinho que passava
Tinha uma rima comum a todos
Bença padrinho! Me dá um dinheiro?
Rua acima era só alvoroço.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Senhorias em rede

Na soleira da janela da rua
Gastada pelo apoio dos cotovelos
Iam apendoando aquelas senhorias
Com suas línguas afiadas em desvelos

Não eram más por assim dizer
Apenas arremetiam em seu palavreado
As histórias fortuitas vindas ao vento
Acrescidas de um ponto, deixa o conto enlevado

Se todos insistiam em lhes pôr alcunha
Como arremedo e batecum para pipoca estourar
Jus lhes faziam às vezes essa histeria da populaça
Irritadiças e às bufas se deixavam levar

Ora pois, se não eram elas as noticiadoras
Dos eventos mais comentados naquele sítio
Birra de menino, chifre em adulto, algaravia de doutor
Que mantinham o povo alegre e em pusilânime ritmo

Os medidores de rua, informantes assíduos
Daquela gente que a vida plena era o seu querer
Se da vida dos outros as faziam entronar
Eternizadas suas histórias num terno embevecer

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Luar no Sertão

Oh! Luar
no sertão, alumiar
Caminhos
dessas gentes, labutar

Oh! Luar
no sertão, acalentar
Corações
Seco de lágrimas, penar

Oh! Luar
no sertão, lamentar
Vozes
Que teimam, reclamar

Oh! Luar
no sertão, bem-fazer
Pessoas
Sempre em esperança, viver

Inverno

Era o inverno no verão
O sol ardia à face
E as chuvas que iam e viam
Cobriam as terras áridas do sertão

Da cinza caatinga, o verde brotava
Vida, anúncio de redenção
O canto de pássaros por todo lado
Caminhos que agora cristalizavam

Era o inverno no verão
O sertão se rejubilava.

Louro Dete

Era Louro Dete
no Sertão conhecido
Carrinho de mão, a punho
ouvia-se de longe o ruído

Negra pele nascida
e pelo sol esturricada
na gene, a pobreza
de uma gente emanada

Louro Dete é homem
na árdua lida diária
é porém um menino
nas brigas de calçada

Ser excepcional
em muitos sentidos
na mente desregular
em atitudes, embevecido

Subiu e desceu ruas
anos a fio pela vida
foram momentos alegres
e de tristezas contidas.