quarta-feira, 18 de julho de 2007

Águas do riacho

Quem me diria, águas do riacho
Que um dia, uma luz, um facho
Um reflexo na memória emergiria
No teu leito a inspiração de uma poesia

Era naquele tempo idade faceira
Um acorde, um canto, de palha a esteira
Ao redor do fogo, balbúrdia de risos
Ao se ouvir histórias de fundo sinistro

Em passos lentos a lua desbravava os céus
Silêncio interrompido por grilos, que escarcéu
Outras vezes, só o chuá das águas riacho adentro

Olhar pra cima, vaga-lumes e estrelas a alumiar o universo
Este sono que teima, vem chegando mais perto, tão perto..
Sonhos vívidos, paradisíaco, sonho!, agora lento...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Poeira

Poeira desce a rua
Em dias de São João
Meninos que perambulam
Com carrinhos de rolimã

Poeira que cobre os céus
Na morno inverno do Sertão
Mulheres conversando ao léu
Sentadas em tamboretes e no chão

Poeira que varre as roças
Na teima rude da plantação
Homens que capinam em troça
Sobrevivência imputada ao coração

Poeira das festas de São João
Eternas, na vida deste Sertão

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Toca da gameleira

No meio da serra a gameleira
Numa 'broca' de pedra a toca
Cheia d'água na época do inverno
A toca da gameleira o ponto de encontro

O mais corajoso no alto ia
De lá, pular pro fundo da toca
Os galhos da gameleira do peso pendiam
Daquela quantidade de meninos

Na beirada outros se encontravam
Morada dos mais precavidos
Incentivos de longe, aos gritos
Pula! Pula! De flecha que é que tem graça

Horas passavam, a fome, esquecia
Em casa mães deveras preocupadas
Braçadas de um lado para o outro
Algo a ser não lembrado, ah!, as palmadas

O sol no poente anunciava
Um vento frio já se sentia
É noitinha, tinha que ir pra casa
Pele fubazenta, cabelo duro, boas risadas

Um salto de uma pedra a outra, às vezes caía
Eram só alegrias, planos de voltar no outro dia
Nem as palmadas que iriam arder as bundas
Desistir, nem por um momento, se cogitava

Toca da gameleira que ficava
A cada inverno transbordando
De água por todos os lados e
De meninos, e... suas traquinadas

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Lagoa

Perambulam os meninos
Pela serra à toa
Voa o tempo, voa
E as suas frentes
Surge magnânima, a lagoa
De água barrenta, amarelada
Desse inverno, desceu
De todas as ruas, por enxurrada
Um galho de mato, cabide
Meninos nus neste arrabalde
Saltam graciosos ao relento
Não há vergonha, ah!, tempos!
Mais acima pessoas passam
Muitas braçadas, pedra a outra
Molecadas
Vão se embora os meninos,
Água assenta, quase cristalina
Adormece o sol no horizonte
Amanhã, sim!, amanhã
De bundas ardentes
Voltam os meninos

Esmola

Prato na mão, estendido
Faça a Deus um pedido
Cair em cima uns grãos
Mesmo uma lasca de pão

Copo na mão, esperando
Nuvens no céu se juntando
Chove!, chuva, sem parar
Para o plantio vingar

Nada na mão, levantada
Se foi a esperança sonhada
Estreita os caminhos então
Para as esmolas, em vão

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Morada II

Separa terra
Separa água
Nascer do barro
Para empreitada

Separa pedra
Separa galho
Erguer escora
Para o trabalho

Enche as escoras
Com todo barro
Da carnaúba
Vem o telhado

Surge do chão
Sua morada
Sonho real
Sem frias madrugadas