sexta-feira, 3 de abril de 2009

Treitcheiro (Treiteiro)

Era deveras religioso quando menino
De tudo que era jeito tinha padrinhos
De crisma, de colo e de São João
A todos me deleitava em carinhos.

De verdade, outros eram os interesses
Não de um todo querer maldoso
Para menino ter uns trocados
A vida era pedir todo garboso.

E a frase dita a cada padrinho que passava
Tinha uma rima comum a todos
Bença padrinho! Me dá um dinheiro?
Rua acima era só alvoroço.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Senhorias em rede

Na soleira da janela da rua
Gastada pelo apoio dos cotovelos
Iam apendoando aquelas senhorias
Com suas línguas afiadas em desvelos

Não eram más por assim dizer
Apenas arremetiam em seu palavreado
As histórias fortuitas vindas ao vento
Acrescidas de um ponto, deixa o conto enlevado

Se todos insistiam em lhes pôr alcunha
Como arremedo e batecum para pipoca estourar
Jus lhes faziam às vezes essa histeria da populaça
Irritadiças e às bufas se deixavam levar

Ora pois, se não eram elas as noticiadoras
Dos eventos mais comentados naquele sítio
Birra de menino, chifre em adulto, algaravia de doutor
Que mantinham o povo alegre e em pusilânime ritmo

Os medidores de rua, informantes assíduos
Daquela gente que a vida plena era o seu querer
Se da vida dos outros as faziam entronar
Eternizadas suas histórias num terno embevecer