Na ponta da rua
Dia de feira era uma festa
Gente de todos os cantos
Começava bem cedo, a guerra
Muitos quartos, uma quizumba
Mulheres pintadas dos pés à cara
De roupas berrantes, em partes
Fazia alegria dos mais bonitos
E para os mais feios uma felicidade
Não havia separação entre pobres e ricos
Qualquer um, era bem atendido
Tinha as estrelas, as mais solicitadas
Mas a hierarquia era rígida e cara
Aos mais velhos a preferência
Aos mais novos a paciência
Às vezes brigas ocorriam
Risca faca, era a arma
Os polícias logo apareciam
Banhavam as mulheres
Não tinham tempo
Era Sábado, feira
Conta do recado, obrigadas a dar
Pois o dono do ambiente podia expulsar
Era assim dia de feira,
Até raiar o outro dia
Caras dos homens de tanta euforia
Luta diária, vai retornar
Para na próxima feira
Com as mulheres rameiras
Voltar a deitar
Na ponta da rua
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Algaroba
Dê sombra algaroba
Ao homem cansado
Ao jegue estropiado
Aos meninos peraltas
As mulheres e suas latas
Dê comida algaroba
Ao bode pé de serra
Ao boi magricela
Aos pássaros que rodeiam
A terra que semeia
Dê notícia algaroba
Dos namorados em lua cheia
Das pessoas, da vida alheia
Dos malandros descansados
Dos bichos desgarrados
Dê abrigo algaroba
Aos vira-latas no calor do verão
Ao sono incólume de beberrões
As fofoqueiras de língua pífia
Aos carros, às carroças, à polícia
Dê esperança algaroba
A luta que não é em vão
À terra do sertão
A esse gente destemida
Etéreo viver sem guarida
Ao homem cansado
Ao jegue estropiado
Aos meninos peraltas
As mulheres e suas latas
Dê comida algaroba
Ao bode pé de serra
Ao boi magricela
Aos pássaros que rodeiam
A terra que semeia
Dê notícia algaroba
Dos namorados em lua cheia
Das pessoas, da vida alheia
Dos malandros descansados
Dos bichos desgarrados
Dê abrigo algaroba
Aos vira-latas no calor do verão
Ao sono incólume de beberrões
As fofoqueiras de língua pífia
Aos carros, às carroças, à polícia
Dê esperança algaroba
A luta que não é em vão
À terra do sertão
A esse gente destemida
Etéreo viver sem guarida
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Águas do sertão II
A água tão escassa
No barreirão água salobra
O trabalho é árduo para buscar
Desta água não se bebe
Água de beber tem que comprar
Medida na lata ou no litro
Nas casas que tem tanque
Todos feitos de cimento
Água custa caro no verão
A concorrência é pouca
Dona Lelinda e Dona Lizinha
São as vizinhas mais perto
Seu Cantídio tá mais barato
Muito longe, é um cansaço
Dona Virgínia também tem
Só que pingo no chão é um sermão
Tem Dona Moroca mais acima
Na rua debaixo Seu Arsênio
Quem tem tanque em casa
Quer sempre ganhar uns trocados
Outros ainda podem se contar
Dona Lita, Seu Nego, baita sufoco
Água que dá vida ao homem
Labuta sertaneja cotidiana
No barreirão água salobra
O trabalho é árduo para buscar
Desta água não se bebe
Água de beber tem que comprar
Medida na lata ou no litro
Nas casas que tem tanque
Todos feitos de cimento
Água custa caro no verão
A concorrência é pouca
Dona Lelinda e Dona Lizinha
São as vizinhas mais perto
Seu Cantídio tá mais barato
Muito longe, é um cansaço
Dona Virgínia também tem
Só que pingo no chão é um sermão
Tem Dona Moroca mais acima
Na rua debaixo Seu Arsênio
Quem tem tanque em casa
Quer sempre ganhar uns trocados
Outros ainda podem se contar
Dona Lita, Seu Nego, baita sufoco
Água que dá vida ao homem
Labuta sertaneja cotidiana
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
Mamoneiro
No terreiro
Debaixo de um sol vibrante
Capota de mamona desabrochando
Um estalo, dois estalos, caroços reluzentes
Restos da plantação
Catado a beira da estrada
A jóia agora delapidada
Já é hora de ajuntar
Vem mulher, vem menino
Pisar o mamoneiro
Não há sol, nem poeira
Que a teima pode quebrar
É um resto de esperança
Mais ano pra suportar
Vem mulher, vem menino
A mamona assoprar
Amanhã é dia de feira
Vender pra poder comprar
Farinha, rapadura, feijão
Se der, mais outra coisa
Vem mulher, vem menino
Toda a mamona catar
Tirar pedra, tira barro
O dono da venda é brabo
Posso morrer de fome
Não sei enganar
No terreiro
Debaixo do luar do sertão
Mamona pronta pra fazer sabão
Conversa sob a luz do candeeiro
Sonha mulher, sonha menino
A esperança de melhores invernos.
Debaixo de um sol vibrante
Capota de mamona desabrochando
Um estalo, dois estalos, caroços reluzentes
Restos da plantação
Catado a beira da estrada
A jóia agora delapidada
Já é hora de ajuntar
Vem mulher, vem menino
Pisar o mamoneiro
Não há sol, nem poeira
Que a teima pode quebrar
É um resto de esperança
Mais ano pra suportar
Vem mulher, vem menino
A mamona assoprar
Amanhã é dia de feira
Vender pra poder comprar
Farinha, rapadura, feijão
Se der, mais outra coisa
Vem mulher, vem menino
Toda a mamona catar
Tirar pedra, tira barro
O dono da venda é brabo
Posso morrer de fome
Não sei enganar
No terreiro
Debaixo do luar do sertão
Mamona pronta pra fazer sabão
Conversa sob a luz do candeeiro
Sonha mulher, sonha menino
A esperança de melhores invernos.
Águas do Sertão
Água
Vai levando na cabeça
Uma lata
Um balde
Uma cabaça
Uma bacia
Uma tigela
Água
Vai levando na bicicleta
Uma lata e Um homem
Duas lata e Um homem
Duas lata e uma cabaça e
Um homem
ÁguaVai levando no jegue
Duas lata e Um homem, um menino
Quatro lata e Um homem, um menino
Quatro lata e uma cabaça e
Um homem, um menino
Água
Vai levando na carroça
Um tunel e Dois menino e um burro
Dois tunel e Dois menino e um burro
Três tunel e uma cabaça e
Dois menino e um burro
Água
Que mata
A família sertaneja
De morte morrida
Ou da seda encardida
Vai levando na cabeça
Uma lata
Um balde
Uma cabaça
Uma bacia
Uma tigela
Água
Vai levando na bicicleta
Uma lata e Um homem
Duas lata e Um homem
Duas lata e uma cabaça e
Um homem
ÁguaVai levando no jegue
Duas lata e Um homem, um menino
Quatro lata e Um homem, um menino
Quatro lata e uma cabaça e
Um homem, um menino
Água
Vai levando na carroça
Um tunel e Dois menino e um burro
Dois tunel e Dois menino e um burro
Três tunel e uma cabaça e
Dois menino e um burro
Água
Que mata
A família sertaneja
De morte morrida
Ou da seda encardida
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