sexta-feira, 29 de junho de 2007

Não foi um sonho

Não foi um sonho
quando da morte, vivi
aquelas paragens estranhas
dentro em mim, vi

nebulosos os pensamentos
os medos surgem, tristonho.
Minh'alma imersa na escuridão.
Não foi um sonho

Forte o calor, debalde
Não foi um sonho
Miragens e formas no horizonte
vida nômade, contraponho

eram vidas nemorais
que a seca estropiou
Não foi um sonho
Do sertão o que restou

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Mulher ao entoar sua canção (Canção à mulher sertaneja)

Não era no sertão o luar mais belo
Nem o avermelhado pôr do sol ao chão
O que estremecia corações singelos
Mulher ao entoar sua canção

Nas lisas pedras das serras
Lavando roupas no serão
Labutas diárias, uma guerra
Mulher ao entoar sua canção

Sulcar a terra com enxada a punho
Semeando para a família o pão
Preces por chuvas para o aprumo
Mulher ao entoar sua canção

Garras afiadas na defesa de casa
Cuidar de marido, filhos, neste sertão
Uma vida mais que retada
Mulher ao entoar sua canção

quarta-feira, 27 de junho de 2007

À luz do candeeiro

À luz do candeeiro
homens conversavam
da fome que fraqueja
às águas que faltavam

e a sôfrega terra
estéril, pelo sol causticante
o pó, a pedra, misérias,
colheitas insignificantes

Os filhos que vieram
nascidos da esperança
planos anunciados
nos sonhos de bonança

À luz do candeeiro
lamentos de sertanejo
de corações endurecidos
são fortes no degredo

Viva José, Vida João

Chamam-me José
E aquele João
Comemos do mesmo prato
Dormimos no mesmo chão.

Nunca houve briga
Entre mim e João.
João gosta de gente
E eu de solidão.

Se no mundo há alguém
Que leva no coração
Todo o amor da vida
Tem alcunha de João.

Se no mundo há alguém
Que teima e é turrão
A José alcovitaram
Lhe imputando esse senão.

Nossa história é marcada
Causo, conto e solidão
Êta amigos valoroso
Esse cabra chamado João.

Luta e vida companheira
Os segredos do coração
Não sei se é sina de José
Ou se é sina de João.

José, João, Severina, Maria
Tantos nomes, nesse chão
De perto quanta gente
Tanto José e tanto João.

Não há vida sem José
Nem alegria sem João
Há em um, e no outro
A felicidade como missão.

Vive João, em mim José
Vive José, nele João
Confluências eternas
Anatômica prontidão.

(Produção compartilhada)

Dia no sertão

Minhas alpercatas
Gastas, apertadas
Já andou descalço?
No virgem chão?

Banho de sopapo
Brabo e escasso
Meça a água no litro
Sem o costume, aflição

Pano de tergal
Quente e caro
Usou roupa apertada?
De cor azulão?

Vida dos diabos
Mãos aos céus, rezar
Vezes xingo
Pro costume, perder não.

Quero

Quero andar seus passos
Enlaçar-me nos seus abraços
Quero me embriagar desse perfume
Impregnar-me do seu lume.

Quero viver seus devaneios
Mergulhar nos seus anseios
Quero dividir suas dúvidas
Partilhar suas renúncias

Quero transceder deste chão
Irracionalizar o tempo e a razão
Quero sentir o seu prazer
Anarquizar a certeza do ser

Quero esvariar-me no seu sabor
Imergir minha vida ao seu louvor
Quero ironizar toda razão
E apreçar do amor, a lição