quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Um preto, homem

Não é de morte morrida a minha sina
Neste chão marcado de sangue
Vida de discriminação sofrida
Arma empunhada a mão, maldita

Filho sou de mulher da rua
De cor a pele fragrante
Pobreza que revolta a alma
Sem nome, sem casa

Na lama a infância doída
Brinquedos as pedras, as pipas
Engalfinhando em lutas diárias
Um pedaço de pão, míseras migalhas

Crescendo no meio desolado
Meu pai!, que nunca existiu
Mãe ébria, vida condenada
Eu, dos irmãos, amava e cuidava

A conquista da vida, uma guerra
Nas batalhas eram só desvantagens
Sofrível coragem aos céus clamando
Um dia de vida, um dia de vida, reclamando

Na proteção aos amados, adveio
Desgraças a muito já anunciadas
Peixeirada na barriga de outro
Minha primeira morte, o estouro

E foram tantas, da primeira, mortes
Na adolescência homem marcado
Respeitado na violência demente
Fuga circular em volta daquela gente

Saudades que machucavam o peito
Amados que já não podia mais ver
Instantes dessas tristezas profundas
Meu rosto lágrimas constantes inunda

Sabia do retorno tragédias veriam
Sagrados eram irmãos e mãe
O degredo pior que a morte me delatava
Hora precisava abraçar os que amavam

Do encontro a felicidade exposta
Último momento, vim despedir
Um estrondo, vários tiros, os gritos
Morto, agora apenas os choros aflitos

Minha sina, a morte matada
Por defender o direito à vida
Culpados os homens de Deus, do Diabo
E eu que nasci preto e pobre, maltratado

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